Familiares de pacientes internados no Hospital do Ipiranga, na Zona Sul de São Paulo, voltaram a denunciar falhas no atendimento, falta de infraestrutura e atrasos em procedimentos cirúrgicos. Casos recentes revelaram situações em que pacientes deixaram de receber itens básicos, como toalhas, ou precisaram recorrer à rede particular após esperarem por dias sem previsão de cirurgia.
Uma mulher que acompanhava o parto da cunhada, e que preferiu não se identificar por temer sofrer retaliações, contou que teve que pedir uma toalha após o banho da gestante, que estava em trabalho de parto. Segundo ela, o hospital não trouxe o item básico de higiene.
Outra denúncia partiu da pedagoga Mara Soares, que levou a mãe, Maria Luiza, de 80 anos, ao hospital no último dia 13, com fortes dores na perna. De acordo com Mara, o primeiro atendimento foi precário e incluiu a aplicação convencional de Tramal, o que teria provocado uma ocorrência intensa na idosa.
Mesmo com os sintomas graves, Maria Luiza foi liberada sem exames de imagem. Somente após retornarem à unidade e insistirem muito, foi realizada uma tomografia, que indicou a necessidade de cirurgia. Segundo a família, o hospital não deu previsão para o procedimento.
Diante da situação, a filha registrou uma permissão na Ouvidoria da Secretaria Estadual da Saúde. O órgão solicita esclarecimentos ao hospital sobre a ausência de exames no primeiro atendimento e cobrou uma previsão concreta para a cirurgia.
Em nota, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) recomenda que as denúncias sejam formalizadas, inclusive com identificação, para que medidas possam ser tomadas.
Problemas na estrutura hospitalar também foram denunciados por um médico da unidade, que preferiu não ser identificado. Ele afirmou que o centro cirúrgico do hospital ficou fechado por quatro meses, entre dezembro e abril, e que, mesmo após reaberto, apenas metade das salas voltou a funcionar por falta de funcionários.
As novas denúncias se somam às que já foram mostradas pelo SP2 nos últimos dias, incluindo relatos de violência obstétrica.
Segundo a Secretaria Estadual da Saúde, a média mensal de intervenções na Ouvidoria do Hospital do Ipiranga é de 40. A pasta não informou a mídia do ano anterior, mas afirmou que os números atuais estão “bem acima”.
Em resposta às denúncias, a secretária-executiva estadual de Saúde, Priscilla Pericardis, anunciou medidas para melhorar o atendimento.
O Hospital do Ipiranga é administrado pelo governo estadual e opera como unidade de “porta aberta”, ou seja, recebe pacientes sem necessidade de regulação prévia. Segundo a secretaria, o volume ideal seria de 5 a 7 mil atendimentos mensais — número hoje até três vezes menor do que o registrado.
Mulheres que tiveram filhos no Hospital Ipiranga relatam ter sofrido violência obstétrica antes do parto e afirmam que foram causadas por médicos e enfermeiras ao realizarem o parto normal.