Investigação revela motivação por disputa de terras e confirma envolvimento de policiais e empresários
A Polícia Civil de Mato Grosso concluiu a primeira fase do inquérito sobre o assassinato do advogado Renato Gomes Nery, de 72 anos, que foi morto a tiros em julho de 2024. O caso, que inicialmente gerou grande comoção pela violência e pela complexidade das investigações, apontou como motivação a disputa por propriedade de terras. As autoridades indicaram que o crime foi planejado com antecedência e envolveu vários intermediários, incluindo policiais militares e empresários. Até o momento, seis pessoas foram indiciadas e dez foram presas. Uma nova fase da investigação foi iniciada para apurar os acontecimentos posteriores ao assassinato, incluindo o uso de dinheiro e o caminho percorrido pela arma do crime.
Principais descobertas da investigação
Na conclusão da primeira fase do inquérito, a Polícia Civil detalhou o papel dos envolvidos e apresentou as conclusões das investigações, que revelaram a profundidade do esquema criminoso:
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10 pessoas foram presas, com 6 sendo indiciadas por homicídio duplamente qualificado.
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A motivação central para o assassinato foi a disputa por terras envolvendo o advogado e empresários locais, conforme revelado por depoimentos e investigações.
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A polícia iniciou um inquérito complementar para investigar o que aconteceu após a morte de Nery, incluindo como os pagamentos aos envolvidos foram realizados e o trajeto da arma até o local do crime.
Quem são os envolvidos e qual foi o papel de cada um?
A investigação revelou uma teia complexa de intermediários, mandantes e executores, com cada um desempenhando um papel crucial para a execução do crime.
Executores:
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Alex Roberto de Queiroz Silva – O caseiro da chácara contratada para o assassinato de Nery, foi identificado como o atirador. Ele foi responsável por disparar os tiros que mataram o advogado.
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Heron Teixeira Pena Vieira – Sargento da Polícia Militar, apontado como um dos principais intermediários. Heron foi contratado para executar o crime e, ao ser preso, confessou seu envolvimento. Segundo ele, foi contratado para matar o advogado e contratou Alex para realizar a execução. Heron recebeu R$ 200 mil pelo crime e repassou R$ 50 mil ao caseiro.
Intermediários:
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Jackson Pereira Barbosa – Cabo da Polícia Militar, envolvido no repasse de dinheiro a Heron para a execução do crime.
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Ícaro Nathan Ferreira – Policial da Rotam, também intermediário, que entregou parte do dinheiro a Heron e forneceu a arma do crime.
Mandantes:
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Cesar Jorge Sechi – Empresário, apontado como o principal mandante do crime. Ele teria encomendado a morte de Nery devido à disputa por terras.
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Julinere Goulart Bastos – Empresária e esposa de Cesar, também é suspeita de ser mandante. Ela aceitou colaborar com a investigação, enquanto Cesar permaneceu em silêncio durante os depoimentos.
Tentativa de acobertamento: Ação dos policiais militares
Além dos envolvidos diretamente no assassinato, a investigação também revelou a tentativa de acobertamento do crime por parte de quatro policiais militares. Estes policiais foram presos sob a acusação de simular um confronto policial para justificar o abandono da arma utilizada no assassinato e desviar a atenção das investigações:
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Alessandro Medeiros Ramos
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Wekcerlley Benevides de Oliveira
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Leandro Cardoso
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Jorge Rodrigo Martins
Segundo as investigações, os policiais tentaram criar um cenário de confronto armado com os suspeitos para encobrir o crime e justificar o desaparecimento da arma do crime, mas a polícia conseguiu desmascarar essa tentativa.
Motivação do assassinato e execução do plano
O assassinato de Renato Gomes Nery foi cuidadosamente planejado, e a motivação central foi a disputa por terras. O advogado estava envolvido em negociações para transferir propriedades para o nome de suas filhas, o que parece ter gerado conflitos com os mandantes do crime, que temiam perder as propriedades. A polícia revelou que Nery não temia pela própria vida, mas sim pela possibilidade de perder suas terras.
Pagamento pelo crime:
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R$ 200 mil foi o valor pago a Heron para a execução do crime.
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R$ 50 mil foi repassado ao caseiro que efetuou os disparos.
Nery foi baleado quando chegava em seu escritório, na Avenida Fernando Corrêa em Cuiabá. Ele foi surpreendido pelo atirador, que já o aguardava. Após disparar contra o advogado, o atirador fugiu em uma moto.
Próximos passos: investigação complementar
Após a execução, a polícia seguiu com o rastreamento das fugas e das ações dos intermediários. Através de câmeras de segurança, foi possível identificar o trajeto da moto utilizada pelo atirador, que foi seguida até uma chácara em Várzea Grande.
A polícia agora investiga:
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A origem dos pagamentos realizados aos envolvidos.
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Por onde passou a arma do crime até o momento da execução.
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O papel dos intermediários, que podem ter atuado após o assassinato para ocultar provas e desviar a atenção da polícia.
O processo foi encaminhado para o Ministério Público e ao Judiciário, que devem avaliar os indiciamentos e apresentar denúncia formal.
Fonte: g1 MT