O Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso (CRM-MT) se manifestou nesta quinta-feira (23) contra as declarações do prefeito Abilio Brunini (PL), que responsabilizou os médicos pelo caos na saúde de Cuiabá. A instituição também criticou a recente medida que orienta pacientes de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) a procurarem atendimento nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), destacando que isso coloca em risco a vida de pacientes.
De acordo com o CRM, as UBSs não têm estrutura adequada para atender urgências e emergências. “As UBSs funcionam como consultórios médicos, enquanto as UPAs são destinadas ao pronto atendimento. Pacientes com sintomas como febre, dor ou vômito não agendam consulta, eles precisam de atendimento imediato”, pontuou o Conselho em nota oficial.
Riscos à saúde pública
O CRM destacou que a medida adotada pela Prefeitura tem levado pacientes com problemas graves às UBSs, comprometendo a qualidade do atendimento e aumentando os riscos à vida dessas pessoas. Mesmo casos classificados como “menos prioritários” nas UPAs demandam cuidados especializados que não são possíveis nas UBSs devido à falta de estrutura e recursos.
Críticas à gestão e às ameaças aos profissionais de saúde
O prefeito Abilio Brunini anunciou que usará imagens de câmeras de segurança para monitorar o fluxo de pacientes e que tomará medidas rigorosas contra profissionais de UBSs que se recusarem a atender pacientes por demanda espontânea. Em resposta, o CRM condenou as ameaças de demissão feitas pelo gestor e alertou que esse tipo de comportamento agrava a violência contra médicos.
“Ao tentar criminalizar os profissionais de saúde, o prefeito desvia o foco da falta de organização, estrutura e investimentos no sistema”, reforçou o CRM.
Desmonte da atenção primária
O Conselho também denunciou que a atenção primária à saúde sofreu um desmonte em Cuiabá, com UBSs operando sem estrutura adequada e enfrentando dificuldades no registro de atendimentos devido a falhas no sistema de gestão municipal.
Além disso, destacou que comparar quantitativamente o número de atendimentos entre UBSs e UPAs como medida de produtividade é irresponsável, uma vez que os serviços possuem finalidades distintas.
Entenda a diferença entre UPA e UBS
A confusão sobre o papel de cada unidade de saúde é um dos problemas levantados pelo CRM. Para esclarecer, veja abaixo as diferenças entre UPA e UBS:
Unidade Básica de Saúde (UBS)
- Consultas médicas para doenças simples e acompanhamento de condições crônicas;
- Saúde da mulher: pré-natal, exames preventivos e planejamento familiar;
- Vacinação infantil e de adultos;
- Atendimento odontológico básico e orientações sobre higiene bucal;
- Exames preventivos e de rotina, como aferição de pressão arterial e glicemia.
Unidade de Pronto Atendimento (UPA)
- Atendimento a emergências médicas, como traumas, infartos e acidentes;
- Tratamento de crises respiratórias, como asma e falta de ar;
- Suturas e primeiros socorros para ferimentos graves;
- Monitoramento de intoxicações e reações alérgicas graves;
- Estabilização de pacientes com febre alta, dores intensas ou outras condições críticas.
Saúde pública em risco
O CRM-MT garantiu que continuará acompanhando de perto a situação e cobrará medidas efetivas para enfrentar a falta de estrutura e organização no sistema de saúde de Cuiabá. A instituição também ressaltou a importância de respeitar e valorizar os profissionais que atuam em condições adversas para garantir o atendimento à população.