A queda no desempenho educacional da Finlândia
Entre 2000 e 2010, a Finlândia foi considerada um exemplo global de sucesso educacional. Durante essa década, o país atraiu atenção internacional, com pesquisadores e educadores de todo o mundo, incluindo Brasil, Estados Unidos, Reino Unido e China, visitando suas escolas para entender a “fórmula do sucesso”. Contudo, a partir de 2012, a Finlândia começou a apresentar uma queda no desempenho de seus alunos nas avaliações internacionais, como o Pisa e o Timss.
Anders Adlercreutz, ministro da Educação da Finlândia, afirmou ao g1 que, apesar do padrão ainda elevado, uma queda de mais de 20 pontos nas três disciplinas avaliadas (matemática, ciências e leitura) em dez anos gerou preocupações. O país, que outrora figurava entre os melhores, agora apresenta desempenho inferior até mesmo em relação a países como os Estados Unidos.
Entre as mudanças nos últimos anos, que poderiam ter influenciado essa queda, estão a flexibilização do currículo, o aumento da digitalização nas escolas, mudanças demográficas e a crise econômica.
Fatores que explicam a queda no desempenho
- Flexibilização do currículo: O currículo das escolas finlandesas tornou-se mais flexível, com a implementação de projetos interdisciplinares. Embora esse modelo prepare os alunos para a vida e o mercado de trabalho, ele pode ter comprometido o desempenho em testes tradicionais como o Pisa, que exigem foco em conteúdos rígidos.
- Digitalização excessiva: A grande ênfase no uso de tecnologia nas escolas finlandesas também é vista como um fator que pode ter impactado o desempenho. Embora a digitalização tenha trazido benefícios, como métodos de ensino mais interativos, também foi associada a uma diminuição da leitura e da concentração dos alunos, especialmente entre os meninos.
- Desigualdade e imigração: O aumento da desigualdade social e o aumento do número de alunos imigrantes, muitas vezes provenientes de famílias em situações vulneráveis, também impactaram a educação. O rendimento dos imigrantes foi consideravelmente inferior ao dos nativos, o que contribui para a disparidade educacional.
- Crise econômica: Cortes orçamentários reduziram o número de auxiliares nas escolas e afetaram a qualidade do ensino. Além disso, a crise econômica levou a uma mudança nas funções dos professores, que passaram a ter mais tarefas burocráticas.
O modelo brasileiro e as lições da Finlândia
O modelo educacional finlandês inspirou muitas mudanças na educação brasileira, especialmente com relação ao ensino mais interdisciplinar. No entanto, especialistas alertam para a necessidade de um equilíbrio entre a flexibilidade do currículo e a manutenção dos conteúdos tradicionais essenciais, como matemática e leitura. A busca por um modelo que integre criatividade e aprendizado formal continua sendo um desafio para muitos países, incluindo o Brasil.
Medidas adotadas para recuperar o desempenho
Diante da queda nas avaliações, a Finlândia adotou algumas medidas para tentar retomar a liderança educacional, como a proibição do uso de celulares nas escolas e a ampliação da carga horária de disciplinas essenciais, como matemática e literatura. O ministro Adlercreutz reconhece que o país está em um processo de adaptação e busca por um equilíbrio entre inovação e tradição no sistema educacional.
A Finlândia, embora ainda mantenha uma educação de alta qualidade, enfrenta desafios para sustentar seu status como modelo global de ensino. A queda no desempenho dos alunos é vista como um reflexo de mudanças internas no currículo e na sociedade, além da crescente complexidade de um sistema educacional que precisa se adaptar rapidamente às novas realidades sociais e tecnológicas.