O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou recentemente o projeto aprovado pelo Congresso que altera significativamente as regras de acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), um dos pilares do sistema de assistência social no Brasil. O BPC garante um salário mínimo mensal a idosos e pessoas com deficiência em situação de vulnerabilidade, que não têm condições de se sustentar financeiramente.
O Que é o BPC?
O BPC é uma política pública essencial que visa garantir a subsistência básica de pessoas em situação de vulnerabilidade social. O benefício é destinado a:
- Idosos com 65 anos ou mais.
- Pessoas com deficiência que apresentem limitações significativas para a vida independente e o trabalho.
Para receber o BPC, a renda familiar deve ser inferior a 1/4 do salário mínimo por pessoa.
Mudanças Importantes na Lei do BPC: O Que Deixa de Ser Permitido e O Que Foi Mantido
A nova lei sancionada por Lula estabelece modificações que afetam diretamente o processo de concessão do benefício, com foco no controle fiscal e racionalização dos gastos públicos. Abaixo, detalhamos as principais alterações e os motivos por trás de cada uma delas.
1. A Exclusão das Deficiências Leves e O Veto do Presidente
Um dos pontos mais polêmicos do projeto inicial foi a proposta de excluir do BPC as pessoas com deficiências leves, considerando que elas não teriam comprometimento suficiente para justificar a concessão do benefício.
- Veto presidencial: Lula vetou esse trecho, alegando que isso poderia gerar insegurança jurídica e prejudicar pessoas que realmente necessitam do benefício. O veto foi esperado, já que havia pressão de parlamentares e movimentos sociais, como Jaques Wagner (PT-BA) e José Guimarães (PT-CE), para garantir que as pessoas com deficiência leve continuassem sendo contempladas.
- Motivo do veto: O governo afirmou que a exclusão das deficiências leves criaria insegurança jurídica, pois não haveria clareza sobre como avaliar o grau da deficiência de cada pessoa.
- Impacto do veto: Pessoas com deficiências leves continuam a ser elegíveis, mas a lei impõe que o BPC seja concedido somente a pessoas com deficiência que sejam avaliadas como incapacitadas para a vida independente e o trabalho.
2. Novas Regras de Avaliação para Pessoas com Deficiência
A concessão do BPC para pessoas com deficiência, mesmo com o veto à exclusão das deficiências leves, ainda está sujeita a avaliações rigorosas. A proposta original queria que o BPC fosse limitado às pessoas com deficiência moderada ou grave. No entanto, o texto final, sancionado por Lula, não impõe essa exigência. Isso significa que a deficiência pode ser leve, moderada ou grave, mas deve ser comprovada que a pessoa não tem condições de trabalhar ou viver de forma independente.
3. Cadastro e Biometria: Garantindo a Atualização e a Autenticidade
Uma das novidades da nova lei é a exigência de que os beneficiários atualizem seus cadastros a cada dois anos, com a inclusão da biometria, com o objetivo de evitar fraudes e garantir que o benefício seja direcionado corretamente.
- Biometria obrigatória: Todos os beneficiários do BPC deverão realizar a biometria, salvo em locais onde o governo não consiga implementar a tecnologia. Isso visa modernizar o processo de concessão e tornar a avaliação mais precisa.
4. Alterações nos Cálculos de Renda Familiar
O novo texto altera a definição da renda familiar, com foco na racionalização do cálculo e no controle de gastos públicos. Veja o que mudou:
- Cônjuge ou companheiro: A renda do cônjuge ou companheiro que não mora na mesma residência não será mais considerada no cálculo da renda familiar.
- Por que a mudança?: A inclusão da renda de um parceiro que mora em outro local poderia reduzir a elegibilidade ao benefício de pessoas que, de fato, precisam do apoio financeiro.
- Consideração dos rendimentos de todos os membros da residência: A nova lei exige que todos os rendimentos brutos mensais dos membros da família que vivem na mesma casa, sejam considerados para determinar a renda per capita.
- Exclusão do BPC da renda familiar: Quando uma pessoa que já recebe o BPC vive com outros membros da família, o valor do benefício não será mais contado para o cálculo da renda familiar.
5. Possibilidade de Acúmulo de Benefícios
Outra alteração importante é que, com a nova regra, é possível que mais de uma pessoa da mesma família receba o BPC, caso atendam aos critérios de renda e deficiência.
- Exemplo: Se houver dois idosos ou duas pessoas com deficiência em uma mesma residência, ambos poderão receber o BPC, desde que as condições econômicas sejam compatíveis com as exigências da lei.
Economia Esperada e O Impacto Fiscal
O Ministério da Fazenda havia estimado que as reformas no BPC gerariam uma economia de até R$ 2 bilhões por ano (R$ 12 bilhões até 2030). No entanto, com o veto presidencial e as alterações nas regras, o governo ainda não divulgou uma nova estimativa de economia.
- Objetivo do governo: Reduzir os gastos sociais sem prejudicar os beneficiários legítimos.
- Desafios: Embora o objetivo fiscal seja claro, o equilíbrio entre austeridade e justiça social continua a ser um dos maiores desafios do governo federal.
Próximos Passos: A Regulação de Acesso ao BPC em 2025
Em 2025, o governo deve enviar ao Congresso um novo projeto de lei para regulamentar a avaliação das pessoas com deficiência e estabelecer critérios claros para a concessão ou recusa do benefício.
- Debates futuros: O Congresso terá de discutir quais serão os novos parâmetros e critérios para a avaliação de deficiência e para a concessão do BPC. Essas decisões podem impactar significativamente a forma como o benefício será concedido no futuro.
O Impacto das Novas Regras no Acesso ao BPC
As mudanças no BPC representam uma tentativa de modernizar e tornar o sistema mais eficiente, com foco em reduzir fraudes e controlar os gastos públicos. Ao mesmo tempo, a preservação dos direitos de pessoas com deficiência e idosos continua a ser uma prioridade. O governo seguirá trabalhando para ajustar os critérios de concessão, especialmente no que se refere às deficiências leves, que, apesar do veto presidencial, ainda geram debate.