O dólar transferido na sessão desta quinta-feira (26), com alta moderada, mas logo após a realização de uma leilão do Banco Central (BC), teve sua valorização reduzida. A moeda norte-americana passou a operar na casa dos R$ 6,15, após atingir o máximo de R$ 6,19, demonstrando a efetividade da intervenção do BC para tentar conter a pressão sobre a moeda. No dia anterior, o dólar teve um salto significativo, fechando para R$ 6,1855, uma alta de 1,87%.
Intervenção do Banco Central
O leilão de venda de dólares realizado pelo BC foi uma estratégia utilizada para aumentar a oferta da moeda no mercado, com o objetivo de diminuir a pressão sobre sua cotação. O BC vendeu US$ 3 bilhões em dólares no mercado à vista, uma quantidade específica que, teoricamente, ajuda a estabilizar o preço da moeda. A ferramenta de leilão do BC é uma das principais maneiras de intervir no câmbio sem recorrer diretamente à venda de reservas, o que mantém a política monetária mais controlada.
O Impacto do Leilão no Mercado
A decisão do Banco Central de realizar a leilão vem em um momento de volatilidade nos mercados, com os investidores acompanhando de perto as movimentações no cenário internacional, especialmente a questão fiscal no Brasil e os estímulos econômicos na China. Essa intervenção ajudou a mitigar o impacto da alta do dólar no mercado doméstico. Às 09h49, a moeda americana estava cotada a R$ 6,1563, com um nível alto de 0,04%, mas já sem a força que declarou no início da sessão.
Comportamento do Dólar na Semana e no Mês
Com a alta registrada na segunda-feira (23), o dólar acumula um ganho de 1,87% na semana, um avanço de 3,08% no mês e uma valorização expressiva de 27,47% no ano. Esse aumento no valor da moeda reflete não apenas a pressão internacional sobre o real, mas também questões internas, como a situação fiscal do Brasil e a expectativa dos investidores quanto à capacidade do governo de lidar com o déficit público.
O Cenário Internacional e Seus Efeitos
Enquanto o Brasil enfrenta desafios fiscais internos, o mercado financeiro internacional também apresenta sinais de mudanças significativas. A principal atenção está voltada para a Ásia, onde a China anunciou que aumentou seu estímulo fiscal em 2025 com a emissão de 3 trilhões de iuanes (aproximadamente US$ 411 bilhões ou R$ 2,5 trilhões) em títulos públicos. Caso concretizada, essa será uma maior emissão de títulos da história da China. A medida visa transferir o consumo e estimular a economia, especialmente após os impactos econômicos causados pela pandemia e pelas perdas comerciais internacionais.
Além disso, o governo japonês também anunciou que a produção econômica do país deverá atingir sua capacidade total no próximo ano fiscal, devido a um mercado de trabalho aquecido e à recuperação econômica após períodos de recessão.
Investidores no Radar de Dados Econômicos
Diante de um noticiário vazio devido ao feriado de Natal, os investidores voltam suas atenções para indicadores econômicos nos Estados Unidos e no Brasil. Nos EUA, o mercado aguarda dados sobre os pedidos semanais de auxílio-desemprego. Já no Brasil, há expectativa pela divulgação da arrecadação federal de impostos de novembro, que ajudará a traçar o quadro fiscal do país no fechamento de 2024.
Preocupações Fiscais no Brasil e na Alta do Dólar
A crescente preocupação com o quadro fiscal brasileiro continua sendo um dos principais fatores que afetam o desempenho do real. O Congresso Nacional concluiu a tramitação de um pacote de cortes de gastos proposto pelo governo, que tem como objetivo economizar R$ 71,9 bilhões nos próximos dois anos, com a projeção de um total de R$ 375 bilhões até 2030. No entanto, Mudanças após no texto, a expectativa é de uma economia fiscal de apenas R$ 69,8 bilhões, o que levou analistas a questionar a eficácia do pacote.
Desafios Econômicos e Políticos para o Governo
Apesar dos esforços do governo, as mudanças feitas pelo Congresso foram interpretadas como insuficientes para garantir o atingimento das metas fiscais. A XP Investimentos, por exemplo, estimou que o potencial de economia fiscal do pacote foi reduzido de R$ 52 bilhões para R$ 44 bilhões. Para os analistas, o pacote de cortes não é suficiente para controlar o crescimento da dívida pública e atingir o equilíbrio fiscal a médio prazo.
Expectativas para o Futuro
O mercado financeiro está especialmente atento às ações do governo brasileiro, que precisa sinalizar mais firmeza na contenção de gastos para restaurar a confiança dos investidores. A ausência de reformas estruturais, como as mudanças na Previdência e o controle de gastos com benefícios, fez com que o mercado visse com o ceticismo as medidas anunciadas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem evitado mexer diretamente nas áreas sensíveis, como políticas públicas em saúde e educação, o que limita a eficácia das reformas no longo prazo.
O dólar, após um período de forte valorização, encontrou resistência graças à intervenção do Banco Central do Brasil. No entanto, o cenário fiscal brasileiro e as questões internacionais continuam a afetar a confiança dos investidores, que permanecem vigilantes diante das mudanças econômicas no país e no exterior. O pacote de cortes proposto pelo governo, embora visto como um passo na direção certa, ainda não é suficiente para tranquilizar o mercado, que aguarda medidas mais relevantes para garantir a sustentabilidade fiscal do Brasil nos próximos anos.
Esse panorama mostra a complexidade das interações entre políticas monetárias internas, os desafios fiscais brasileiros e os impactos das movimentações globais, como os estímulos fiscais na China, que influenciam diretamente o comportamento das moedas e dos mercados financeiros no Brasil.