A erosão costeira e fluvial tem causado sérios danos no litoral de Sergipe, com destaque para a cidade de Estância e a região de Ponta do Saco. Estudos indicam que, dos 147 km do litoral sergipano, 68 km estão sendo severamente impactados pela erosão, uma realidade que tem afetado não apenas as áreas urbanas e turísticas, mas também os ecossistemas locais e a economia da região.
O Impacto da Erosão na Região de Ponta do Saco
A cidade de Estância, no sul de Sergipe, é um dos locais mais afetados pela erosão fluvial e costeira. Em agosto de 2024, uma casa de primeiro andar localizada na Ponta do Saco, às margens do Rio Piauí, foi parcialmente destruída devido ao avanço da maré. De acordo com a dona do imóvel, Cristina Rocha, o imóvel havia sido adquirido em 2015, e, até aquele momento, não apresentava sinais de rachaduras ou danos. A casa construída a 200 metros de água na maré baixa, mas com o aumento da maré, essa distância se reduzia drasticamente, o que agravava o problema da erosão. A perda material foi significativa, com prejuízos estimados em mais de R$ 1 milhão, incluindo o valor do imóvel e contratos de aluguel.
Tipos de Erosão: Fluvial e Costeira
A erosão que atinge o estado de Sergipe é de dois tipos principais: fluvial e costeira.
- Erosão Fluvial: Este tipo de erosão é caracterizado pela perda de sedimentos das margens dos rios, que são levados para o leito do rio. Pode ser um processo natural ou provocado por ações humanas, como a destruição de matas ciliares e a construção básica de barragens.
- Erosão Costeira: A erosão tropical ocorre quando há um desequilíbrio no transporte de sedimentos nas praias, ou seja, quando elas perdem mais sedimentos do que recebem. O avanço do mar ou do rio é uma consequência direta desse processo. O movimento de sedimentos das águas do oceano e dos rios afeta diretamente a linha costeira, impactando casas, comércios e ecossistemas.
Causas e Fatores Contribuintes
De acordo com o pesquisador Júlio César Vieira, da Universidade Federal de Sergipe (UFS), a erosão na região não é um problema repentino. Ele afirma que é resultado de anos de falhas na gestão ambiental, incluindo a ocupação desordenada de áreas sensíveis, como restingas e manguezais. Além disso, a construção de muros de contenção e a criação de quebra-mares sem planejamento adequado agravarão o processo de erosão.
Outros fatores que diminuem para o agravamento da erosão são a perda de vazão dos rios, como o Rio Piauí, que reduz a quantidade de sedimentos que chegam ao mar, afetando diretamente o equilíbrio entre os rios e o mar.
Desafios na Região de Brejo Grande e Praia do Viral
No município de Brejo Grande, a erosão da costa avançou significativamente, especialmente após o final dos anos 1990, quando o Povoado de Cabeço foi submerso pelo mar devido à perda de vazão do Rio São Francisco. Hoje, a região enfrenta um retrocesso da linha de costa de até 100 metros, e áreas que antes eram ocupadas por casas e comércios estão sendo invadidas pelo mar. Manguezais e ecossistemas naturais também estão sendo destruídos pelo avanço do oceano.
Outro exemplo é a Ilha da Praia do Viral, em Aracaju, que também corre o risco de queda devido à deterioração acelerada. A faixa de areia da ilha está sendo consumida pelo mar, com uma taxa de erosão de até 10 metros por ano.
A Influência das Construções Imobiliárias
Especialistas alertam que as construções imobiliárias na orla são um dos maiores contribuintes para a intensificação da erosão. Quando muros e edificações são construídos ao longo da praia, impedem a dissipação natural das ondas e causam o retorno das ondas para o mar, removendo areia da praia e acelerando o processo de erosão.
Na Praia do Saco, há mais de uma década um debate judicial sobre as reformas e construções de muros de contenção. A Justiça Federal impôs uma decisão em 2020 proibindo novas construções ou reformas nos imóveis da região, mas a disputa continua, gerando instabilidade e dificultando a implementação de soluções sustentáveis.
Possíveis Soluções para Mitigar os Efeitos da Erosão
Pesquisadores da UFS sugerem diversas abordagens para minimizar os impactos da erosão, com ênfase na preservação de ecossistemas naturais, como as restingas, manguezais e matas ciliares. Entre as soluções propostas estão:
- Proteção da Vegetação de Restinga: A vegetação de restinga, especialmente a herbácea, desempenha um papel crucial na estabilização das áreas costeiras. Sua proteção é fundamental para evitar a erosão do solo.
- Preservação das Matas Ciliares e Nascentes: As matas ciliares, que protegem as margens dos rios, são essenciais para evitar a erosão fluvial e preservar a qualidade da água.
- Construção de Soluções Sustentáveis: Em vez de optar por muros de contenção que agravam o problema, deve-se buscar soluções que trabalhem em harmonia com os processos naturais, como a restauração de manguezais e o plantio de vegetação nativa.
O Papel da Defesa Civil e dos Governos
A Defesa Civil de Estância e a Defesa Civil Estadual têm monitorado constantemente as áreas mais afetadas pela erosão, realizando visitas e orientações aos moradores e proprietários de imóveis. No entanto, as ações de mitigação excluem mais do que simples monitoramento. Elas envolvem investimentos em infraestrutura de proteção protetora e educação ambiental para a população local.
Além disso, as soluções para o problema envolvem também ações judiciais. O Ministério Público Federal e a Justiça Federal estão empenhados em garantir que as construções irregulares não sejam repitam e que a ocupação da área seja realizada de forma sustentável e legal.
A erosão costeira e fluvial no litoral de Sergipe é um problema complexo e multifacetado, que envolve desde o desequilíbrio ambiental até as questões legais e sociais. A busca por soluções sustentáveis e integradas, que respeitem os ecossistemas locais e considerem a interação entre o mar, os rios e a ação humana, é fundamental para mitigar os efeitos dessa catástrofe ambiental.
O desenvolvimento de estratégias que protejam o litoral sergipano e, ao mesmo tempo, promovam o equilíbrio natural será crucial para preservar a região, tanto para as futuras gerações quanto para os ecossistemas locais.