Nesta sexta-feira, 20 de dezembro de 2024, o dólar abriu em queda, cotado a R$ 6,05, com uma sequência de fortes altas na moeda norte-americana nos últimos dias, que a levou à casa dos R$ 6, 30 de quinta-feira (19). O Banco Central do Brasil (BC) realizou uma série de intervenções no mercado de câmbio, investindo bilhões de dólares em leilões para aumentar a oferta da moeda e reduzir a pressão sobre o real. O mercado também está atento ao pacote de corte de gastos proposto pelo governo, que segue tramitando no Congresso Nacional. Vamos analisar mais detalhes dessa entrega.
Intervenção do Banco Central: Leilões de Dólar
O Banco Central adotou medidas extraordinárias para controlar a desvalorização do real. Na quinta-feira (19), o BC investiu US$ 8 bilhões no mercado em um leilão de venda de dólares, o que resultou na queda do dólar, que fechou a R$ 6,1216, recuando 2,32% em relação ao dia anterior. Para a sexta-feira (20), o BC realiza mais dois leilões: um de US$ 4 bilhões em linha (em que o valor será recompraado no futuro) e outro de US$ 3 bilhões à vista, onde a moeda não retorna ao caixa da instituição.
Desde o dia 12 de dezembro, o Banco Central já investiu cerca de US$ 28 bilhões no mercado por meio de leilões para garantir a estabilidade cambial. Roberto Campos Neto, presidente do BC, afirmou que há uma saída extraordinária de dólares do Brasil neste fim de ano, o que tem levado o governo a adotar essas medidas. Em coletiva de imprensa, ele declarou que o BC seguirá a entrevista sempre que necessária para evitar uma desvalorização excessiva da moeda nacional.
Expectativas para o Mercado Financeiro e Econômico
O mercado também observa atentamente os desdobramentos da proposta de corte de gastos do governo federal. A ideia inicial do governo é economizar R$ 70 bilhões nos próximos dois anos, totalizando R$ 375 bilhões até 2030, por meio de medidas como a restrição da alta do salário mínimo e a revisão de políticas sociais. No entanto, a proposta enfrenta dificuldades no Congresso, com algumas mudanças nos textos que podem reduzir o impacto esperado no controle do déficit fiscal.
Entre os principais tópicos em discussão estão a limitação de aumentos no salário mínimo e a exigência de cadastro biométrico de beneficiários de programas sociais. Alguns pontos foram alterados, o que foi comprovado em uma “desidratação” da proposta. Além disso, o governo também propôs mudanças no abono salarial e na desvinculação de receitas da União, que permitirão ao governo utilizar recursos que foram alocados em outras áreas.
O cenário fiscal está sendo dirigido aos investidores, que temem que as medidas de corte de gastos não sejam suficientes para conter o avanço das despesas públicas. Além disso, o governo não avançou em mudanças estruturais significativas, como na Previdência, nos benefícios ajustados pelo salário mínimo e nos pisos de investimento em saúde e educação.
O Desempenho do Dólar e do Ibovespa
Na véspera, o dólar registrou uma queda significativa de 2,32%, cotado para R$ 6,1216. Isso representou uma recuperação em relação à forte alta de dias anteriores, que levou a moeda americana à marca de R$ 6,30. No entanto, o dólar ainda acumula um aumento de 1,44% na semana, 2,02% no mês e um avanço expressivo de 26,15% no ano.
O Ibovespa, principal índice acionário da Bolsa de Valores brasileira, também mostrou variações importantes. Na quinta-feira, o índice subiu 0,34%, alcançando os 121.188 pontos. No entanto, no acumulado da semana, o índice apresenta queda de 2,75%, enquanto no mês há uma perda de 3,56% e, no ano, um recuo de 9,69%.
O Impacto das Decisões do Fed
O cenário global também exerce influência sobre o mercado cambial brasileiro, especialmente a decisão do Federal Reserve (Fed), do banco central dos Estados Unidos, que controla os juros em 0,25 ponto percentual para a faixa de 4,25% a 4, 50% ao ano, conforme esperado. Essa foi a terceira redução consecutiva na taxa de juros americana. Com isso, as perspectivas econômicas e a política monetária dos EUA continuam a impactar as decisões do mercado, incluindo a do Banco Central do Brasil.
A redução dos juros nos Estados Unidos pode ter efeitos mistos para o Brasil. Em um cenário de juros menores nos EUA, os investidores tendem a buscar oportunidades em mercados emergentes, como o brasileiro, em busca de maior rentabilidade. Porém, essa queda nos juros também pode afetar a atratividade dos títulos públicos brasileiros, levando a uma maior volatilidade na moeda nacional.
Análises e Expectativas para o Futuro
Os analistas financeiros estão divididos quanto à eficácia das medidas de corte de gastos do governo. Enquanto o governo trabalha para enviar um sinal positivo ao mercado, a percepção geral é que as medidas anunciadas não serão suficientes para garantir a estabilidade fiscal a longo prazo. A aprovação de reformas estruturais mais profundas, como mudanças na Previdência e nos benefícios públicos, seria essencial para equilibrar as contas do governo.
Além disso, a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos também gerou incertezas, pois se espera que ele implemente uma agenda econômica conservadora e protecionista. Esse cenário pode afetar tanto a economia dos EUA quanto as relações comerciais com outros países, incluindo o Brasil.
Resumo das Cotações:
- Dólar: R$ 6,05 (queda de 0,96%) no início do pregão.
- Ibovespa: Alta de 0,34% no dia anterior, com variação negativa acumulada no mês e no ano.
O dólar segue operando com volatilidade em resposta às instruções do Banco Central e ao cenário fiscal interno. A expectativa é que o BC continue realizando leilões de venda de dólares para conter a desvalorização do real. Por outro lado, o governo federal enfrenta desafios no Congresso para aprovar um pacote de corte de gastos que consiga equilibrar as contas públicas e evitar impactos maiores na economia. O mercado permanece atento aos desdobramentos desses fatores, com um olhar também para a situação externa, especialmente os efeitos da política monetária do Fed e o cenário político dos EUA.