A economia brasileira enfrenta um cenário desafiador, com uma série de fatores internos e externos pressionando o Comitê de Política Monetária (Copom) a tomar decisões mais agressivas sobre a taxa de juros. A expectativa do mercado é de um aumento na taxa básica de juros, a Selic, nesta quarta-feira, 11 de dezembro de 2024, com os economistas projetando uma elevação mais acentuada, entre 0,75 p.p. e 1 p.p. Isso ocorre em meio a uma inflação resistente, ao impacto de um cenário externo adverso e à desvalorização do real. Os efeitos disso devem continuar em 2025, quando a Selic pode atingir 13,5%, com uma perspectiva de taxa elevada no médio prazo.
Cenário Atual e Expectativas de Alta na Selic
O Banco Central já demonstrou preocupação com a persistência da inflação, que se mantém acima da meta de 3% há meses. Em novembro, a taxa básica de juros foi elevada em 0,5 p.p., para 11,25% ao ano, mas as expectativas são de que essa alta seja mais significativa agora, em função do agravamento de diversos fatores econômicos. As projeções indicam que, até o final de 2024, a Selic pode alcançar 12%, com expectativas para 2025 apontando um cenário ainda mais desafiador.
Entre os principais fatores que estão pressionando o Copom a adotar uma postura mais agressiva na condução da política monetária estão:
- Incertezas nas Contas Públicas
A situação fiscal do Brasil continua sendo um grande ponto de preocupação. A elevada dívida pública e os gastos governamentais em um cenário de déficit fiscal estão aumentando os riscos de descontrole da inflação. O governo anunciou recentemente um pacote de corte de despesas de R$ 70 bilhões para os próximos dois anos, porém, essas medidas ainda precisam ser aprovadas pelo Congresso e são vistas como insuficientes por parte dos investidores. A continuidade do aumento da dívida pública é uma preocupação crescente, o que pode manter os juros elevados em um esforço para atrair a confiança dos investidores e reduzir os riscos fiscais. - Força da Atividade Econômica e Mercado de Trabalho Aquecido
O Brasil experimenta uma economia em crescimento, com o Produto Interno Bruto (PIB) avançando 0,9% no terceiro trimestre de 2024. A taxa de desemprego também caiu para 6,2%, a mais baixa da história desde 2012. O mercado de trabalho está em alta, com mais pessoas empregadas e rendimentos crescentes, o que tem impulsionado o consumo das famílias. No entanto, essa força econômica também traz consigo pressões inflacionárias, pois um mercado de trabalho aquecido tende a aumentar a demanda por bens e serviços, elevando os preços e pressionando o Banco Central a manter os juros elevados para conter a inflação. - Cenário Internacional Adverso e Pressão no Câmbio
O cenário internacional também exerce grande influência sobre a política monetária brasileira. A vitória de Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos e suas políticas econômicas, como aumento de tarifas e corte de impostos, criam um ambiente de maior inflação global. Isso contribui para uma valorização do dólar, o que coloca pressão sobre moedas de países emergentes, como o Brasil. A desvalorização do real, que já superou a marca de R$ 6 por dólar, torna a inflação ainda mais difícil de controlar. O Banco Central já alertou sobre o impacto da política econômica externa, em especial dos Estados Unidos, e suas implicações para o ritmo da desaceleração econômica global.
Projeções para 2025: O Futuro da Selic e Desafios Econômicos
Para o ano de 2025, as perspectivas não são favoráveis a uma queda abrupta da taxa de juros. Os economistas apontam para um cenário de taxa de juros ainda elevada devido à pressão inflacionária, ao aumento da dívida pública e à continuidade de uma política fiscal expansionista, especialmente em anos eleitorais. A expectativa é que a Selic continue seu ciclo de elevações até alcançar 13,5% ao final de 2025.
A aceleração de gastos governamentais prevista para 2026, ano eleitoral, também gera incertezas sobre a trajetória da política monetária, aumentando o risco de uma inflação mais persistente no médio prazo. O governo, por sua vez, aposta em um pacote de cortes de despesas para recuperar a confiança do mercado, mas até o momento as medidas têm sido vistas com ceticismo.
Fatores que Influenciam as Decisões do Copom
O aumento na taxa de juros é uma resposta direta a uma combinação de fatores internos e externos, que são avaliados pelo Comitê de Política Monetária para ajustar a política monetária e tentar controlar a inflação:
- Incertezas sobre a Solvência Fiscal e Endividamento: A falta de soluções claras para o aumento da dívida pública aumenta a percepção de risco e coloca pressão sobre a inflação, tornando mais difícil para o Banco Central controlar os preços sem ajustes na Selic.
- Demanda Aquecida e Consumo Forte: O crescimento da economia, aliado à queda do desemprego e aumento dos rendimentos, eleva o consumo das famílias, alimentando um ciclo de demanda robusta que pode impulsionar a inflação.
- Pressões Externas, Como a Política Econômica dos EUA: A política externa dos Estados Unidos, com aumento de tarifas e cortes de impostos, eleva a rentabilidade dos títulos americanos e fortalece o dólar, prejudicando as moedas emergentes e adicionando mais pressão inflacionária sobre o Brasil.
Conclusão: Expectativas de Alta na Selic e os Desafios à Frente
O cenário econômico brasileiro está marcado por um ciclo de juros elevados, que deve continuar em 2025, à medida que o Banco Central tenta combater uma inflação persistente, a pressão fiscal e os desafios externos. Embora o governo tenha tomado medidas de corte de despesas, a falta de confiança nas soluções fiscais e a alta dos gastos continuam sendo grandes desafios para a economia do Brasil. Para o futuro próximo, a Selic deve permanecer em níveis elevados, refletindo o esforço do governo e do Banco Central para controlar a inflação e restaurar a confiança do mercado.
A alta contínua dos juros impacta diretamente o bolso dos brasileiros, afetando o custo do crédito, o financiamento de empresas e o poder de compra das famílias. Por isso, é importante que o governo e o Banco Central continuem atentos a esse cenário desafiador e ajustem suas políticas econômicas conforme necessário para evitar um ciclo inflacionário descontrolado.