A Bancada Evangélica da Câmara dos Deputados, um dos grupos mais influentes do Congresso Nacional, está prestes a enfrentar uma disputa inédita para a carga de coordenador. Pela primeira vez, a escolha do líder da bancada, tradicionalmente feita por consenso, pode ser decidida por voto. Esta mudança é gerada por uma polarização interna que envolve o deputado Otoni de Paula (MDB-RJ) e seu oponente, Gilberto Nascimento (PSD-SP), cada um com uma base de apoio distinta e visões conflitantes sobre o alinhamento da bancada com o governo federal.
A bancada evangélica, composta por 219 deputados, tem sido um pilar estratégico de apoio em diversos governos, especialmente nos anos recentes, e a escolha de seu líder é um fator determinante nas decisões sobre políticas envolvendo a comunidade evangélica no Brasil. Com os rumores da política evangélica em jogo, as confianças e alianças internas são mais evidentes do que nunca.
O Surgimento da Disputa: Otoni de Paula e Sua Aliança com o Governo Lula
Otoni de Paula era amplamente conhecido como um aliado de campo do ex-presidente Jair Bolsonaro, mas sua recente postura política gerou divisões dentro da bancada. Sua aproximação com o governo Luiz Inácio Lula da Silva gerou polêmica entre os membros do grupo, que tradicionalmente se alinham mais com posturas conservadoras.
O Ato Simbólico com Lula: Repercussões na Bancada Evangélica
Em outubro de 2024, Otoni de Paula participou de uma cerimônia simbólica no Palácio do Planalto, durante a sanção do Dia da Música Gospel, onde fez uma oração ao lado de Lula. Este ato foi interpretado por muitos como um sinal de distanciamento de Bolsonaro, o que gerou críticas dentro da bancada evangélica, que é majoritariamente conservadora.
Uma mensagem de apoio de Otoni ao presidente Lula nas redes sociais, em que ele afirmou que a oração pelas autoridades é um dever cristão, também foi vista como uma tentativa de fortalecer sua ligação com o governo atual. Otoni declarou:
“O PR foi internado com uma hemorragia cerebral. O que temos que fazer como Igreja do Senhor? A resposta é simples: orar. Se você como cristão não consegue fazer isso, por conta do ódio político, lamento dizer que seu Messias não é o meu. Interceder pelas autoridades é nosso dever”.
Essa posição de neutralidade política foi vista como uma tentativa de ampliar o espaço de diálogo para os evangélicos no governo atual, algo que não foi bem recebido por parte de seus colegas mais alinhados ao conservadorismo, especialmente os representantes do bolsonarismo.
Gilberto Nascimento: O Desafiante e o Apoio de Silas Malafaia
Em resposta à candidatura de Otoni, surge a candidatura de Gilberto Nascimento, deputado pelo PSD-SP. Nascimento, ligado ao influente pastor Silas Malafaia, tem uma linha política conservadora e é visto como um representante do setor mais tradicional da bancada evangélica, que defende um alinhamento com o governo Bolsonaro.
A Aliança com Silas Malafaia: O Peso do Apoio Religioso
Silas Malafaia, pastor da Igreja Vitória em Cristo, é uma das figuras mais poderosas do movimento evangélico brasileiro. Ele tem defendido políticas públicas mais conservadoras e se alinhado a políticas que acompanham essa agenda. Malafaia tem forte influência sobre uma parte significativa da base evangélica, e o apoio de Nascimento ao pastor tem sido visto como uma resposta direta ao movimento mais moderado de Otoni de Paula.
A candidatura de Gilberto Nascimento representa uma oposição direta ao alinhamento com Lula e busca fortalecer a ligação da bancada com os valores conservadores que marcaram os últimos anos sob a liderança de Bolsonaro. Nascimento tem apoio de parlamentares do PL e de sua própria sigla, o PSD, além de uma base específica dentro de outros grupos evangélicos.
A Impugnação da Eleição e a Tensão Crescente
A eleição, que foi realizada na quarta-feira, 11 de dezembro, foi adiada após Gilberto Nascimento impugnar o edital de convocação da eleição, alegando discordâncias nas condições do processo eleitoral. O adiamento gerou mais tensão dentro da bancada, com acusações mútuas sobre a falta de votos.
Declaração de Otoni de Paula sobre o Adiamento
Otoni de Paula reagiu afirmando que o adiamento era uma estratégia de seus oponentes, que “sabiam que não tinham votos”. Ele continua a acusar aqueles que o criticam de tentar transformar a Frente Parlamentar Evangélica em um“ puxadinho do bolsonarismo”:
“Os mesmos que me acusam de ser o próximo governo Lula são os que querem fazer da Frente Parlamentar Evangélica um puxadinho do bolsonarismo”.
Apesar das acusações, a votação foi remarcada para fevereiro de 2025, embora ainda não tenha uma data definitiva.
O Cenário de Apoios e Expectativas para a Bancada Evangélica
Otoni de Paula conta com o apoio de partidos como o MDB, Republicanos, e grande parte da bancada evangélica substituta ao governo Bolsonaro. Seu discurso de aproximação ao governo Lula, no entanto, não tem agradado a todos, especialmente aqueles que não querem abrir mão da influência conservadora no governo.
Já Gilberto Nascimento tem uma base mais voltada para parlamentares do PL e do PSD, com forte apoio da ala conservadora e da Igreja Vitória em Cristo, liderada por Silas Malafaia.
O Exemplo de Cooperação: A Divisão Anterior da Coordenação
Nos biênios passados, a democracia da bancada foi dividida de maneira cooperativa entre os deputados Eli Borges (PL-TO) e Silas Câmara (REP-AM), com cada um exercendo o cargo por metade do ano. Esse modelo de compromisso compartilhado ajudou a garantir a estabilidade dentro da bancada, mas também evidenciou a sobrecarga entre as diferentes correntes de pensamento dentro do grupo.
O Futuro da Bancada Evangélica e o Impacto nas Relações Políticas
A disputa pela competitividade da bancada evangélica na Câmara dos Deputados tem consequências profundas para o futuro da política brasileira. A decisão sobre quem ocupará a liderança da bancada não afetará apenas os rumores da comunidade evangélica, mas também influenciará o alinhamento político do grupo com o governo federal, com impactos significativos nas negociações políticas e nas políticas públicas externas para a comunidade religiosa.
Com a escolha marcada para fevereiro de 2025, a disputa interna segue em alta, e o resultado da eleição será determinante para as futuras relações entre a bancada evangélica e o governo federal.