Nos últimos 30 dias, o estado de São Paulo registrou uma série de episódios de violência policial, resultando no afastamento de 45 policiais militares e na prisão de dois deles. Esses casos foram marcados pela atuação de PMs em situações de abuso de autoridade e letalidade policial, sendo amplamente repercutidos, principalmente devido a flagrantes apurados por câmeras de segurança ou celulares. O governo estadual, após pressão pública, admitiu a falha na gestão e postura em relação ao uso de câmeras corporais pelos agentes e anunciou a ampliação do programa de equipamento com câmeras.
Mudança de Postura do Governador Tarcísio de Freitas
O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que anteriormente criticou a utilização de câmeras corporais nas fardas dos policiais, mudou sua posição após os recentes incidentes. Durante a campanha eleitoral de 2022, ele demonstrou oposição ao uso desses equipamentos, argumentando que a preocupação deveria ser com a “letalidade dos bandidos” e não com a de policiais.
Agora, diante da crescente pressão sobre a segurança pública, ele revelou que tinha uma “visão equivocada” sobre as câmeras e afirmou estar “completamente demonstrada” de que elas são um “instrumento de proteção tanto para a sociedade quanto para o policial”. Em resposta à crise de violência policial, o governador anunciou a ampliação do programa de câmeras corporais nas fardas dos policiais militares, mas manteve a decisão de não alterar a liderança da Secretaria de Segurança Pública (SSP).
Principais Casos que Levaram aos Afastamentos e Prisões
- Agressão contra Família em Barueri: 12 Policiais Afastados
- Em 4 de dezembro, 12 policiais militares foram afastados após agredirem uma mulher de 63 anos e aplicarem um golpe de mata-leão no filho dela durante uma abordagem em Barueri, na Grande São Paulo. O caso foi registrado por câmeras de segurança e celulares de testemunhas, que registraram o momento de violência. A SSP informou que as investigações em andamento, com a análise das imagens externas e das câmeras corporais dos agentes.
- Consequências: Os policiais foram afastados e podem ser processados, sendo a solução do caso esperado dentro de 90 dias, podendo resultar em expulsão da corporação.
- Homem Jogada de Ponte: Prisão de um PM e 12 Afastados
- No dia 1º de dezembro, o policial militar Luan Felipe Alves Pereira foi preso após ser acusado de jogar um homem de uma ponte na Zona Sul de São Paulo. Testemunhas gravaram o momento em que o policial entregou a vítima e o arremessou da ponte, ação que acabou resultando na prisão da PM e no afastamento de outros 12 envolvidos na operação.
- Investigações: O caso é investigado pelo Ministério Público e pela Corregedoria da PM.
- Execução de Jovem no Mercado: Prisão de PM
- Em 3 de novembro, o PM Vinicius de Lima Britto, que estava à paisana, foi preso após executar um jovem negro, Gabriel Renan da Silva Soares, de 26 anos, à frente de um mercado. O jovem foi baleado nas costas enquanto tentava fugir após pegar alguns pacotes de sabão. O PM disparou 11 vezes contra ele. O caso foi registrado pelas câmeras de segurança do estabelecimento, e o policial foi isolado após a divulgação do vídeo.
- Consequências: O PM foi preso e enfrentará um processo judicial.
- Assassinato de Estudante de Medicina: 2 Policiais Afastados
- No dia 20 de novembro, dois policiais militares foram afastados após estarem envolvidos no assassinato de Marco Aurélio Cardenas Acosta, um estudante de medicina de 22 anos. O jovem foi baleado à queima-roupa em uma escadaria de um hotel na Zona Sul de São Paulo após um confronto com os PMs, que alegaram que o estudante estava agressivo. Imagens de câmeras de segurança documentaram o crime.
- Investigações: O caso segue sendo apurado pela Corregedoria.
- Execução de Delator do PCC: 8 Policiais Afastados
- O assassinato de Antônio Vinicius Lopes Gritzbach, um delator do PCC, foi constatado no afastamento de oito policiais militares, que estavam sendo investigados pela Corregedoria da PM. A suspeita é de que os PMs não tenham envolvido nenhum crime, realizado no Aeroporto de Guarulhos, após denúncias de que estariam prestando segurança particular para o delator.
- Investigação: O caso é investigado pela SSP, e os PMs foram afastados para que as apurações fossem feitas.
- Morte de Criança de 4 Anos em Confronto Policial: 7 Afastamentos
- Em 5 de novembro, uma criança de 4 anos morreu em um confronto policial no Morro São Bento, em Santos. Durante uma troca de tiros, dois adolescentes também foram baleados. Um deles, de 17 anos, morreu, e o outro, de 15 anos, ficou socorrido sob escolta. Uma criança, Ryan da Silva Andrade Santos, foi atingida por um tiro que provavelmente veio de um policial. Sete policiais envolvidos foram afastados.
- Consequências: A Polícia Militar investiga o caso, e os agentes envolvidos estão fora das ruas.
- Racha com Viatura: 4 Policiais Afastados
- Em julho, quatro policiais militares foram filmados disputando uma “racha” com viaturas oficiais da PM no Cambuci, Centro de São Paulo. Após baterem em dois carros estacionados e em um poste, as imagens viralizaram nas redes sociais. Os policiais foram afastados da atividade operacional e estão respondendo administrativamente.
- Consequências: Eles estão desenvolvendo funções administrativas enquanto aguardam o final da investigação.
Impacto e Repercussões
Esses episódios de violência policial, que tiveram ampla divulgação por meio de imagens gravadas, refletem um cenário de tensão na segurança pública de São Paulo, e geraram um debate sobre o controle e a supervisão das ações da Polícia Militar. O afastamento de tantos policiais em um curto período coloca pressão sobre o governo estadual para garantir maior responsabilização e transparência nas operações da PM. Além disso, o uso de câmeras corporais se tornou um tema central no discurso do governo, com a promessa de expandir o programa, aumentando a confiança pública nas instituições de segurança.
Perspectivas para o Futuro
A introdução de câmeras corporais nas fardas dos policiais, prometida para ser expandida pelo governo de Tarcísio de Freitas, é vista como uma medida necessária para aumentar a responsabilização dos policiais em operações e garantir maior transparência. No entanto, a efetividade dessas medidas dependerá da sua implementação e monitoramento contínuo. A sociedade e as instituições de segurança aguardam agora as respostas adequadas para resolver os casos e evitar a reprodução de abusos no futuro.