Líder espiritual e mestre da cultura afro-brasileira, Nezinho faleceu no mesmo dia que sua mãe, aos 65 anos, após uma parada cardíaca durante um momento de grande dor. Sua morte representa uma grande perda para a comunidade quilombola e para todos que lutaram ao seu lado pela resistência, igualdade e preservação das tradições culturais.
Várzea Grande–MT – 12/04/2024 – A madrugada desta quarta-feira (4) foi marcada por uma grande perda para a comunidade quilombola e para a cultura afro-brasileira de Mato Grosso. Sizenando Carmo Santos, conhecido como Mestre Nezinho, morreu no Pronto-Socorro de Várzea Grande, na região metropolitana de Cuiabá, aos 65 anos. O falecimento ocorreu poucas horas após a morte de sua mãe, Maria Lucinda da Silva, de 91 anos, que foi internada devido a complicações de uma pneumonia e problemas cardíacos. Um incidente trágico foi relatado por um evento que marcou a vida de Nezinho: ele sofreu uma parada cardíaca no momento da morte de sua mãe, sendo levado para o atendimento de emergência, mas não resistiu.
Mestre Nezinho: Uma Figura Central na Cultura Quilombola e Afro-brasileira
Mestre Nezinho não era apenas um líder espiritual; ele era um verdadeiro guardião das tradições afro-brasileiras e um símbolo de resistência dentro da comunidade quilombola de Mata Cavalo de Cima, em Mato Grosso. Nascido em Nossa Senhora do Livramento, a cerca de 42 km de Cuiabá, Nezinho dedicou toda a sua vida à preservação das raízes culturais negras, com ênfase no sincretismo religioso afro-brasileiro. Como Pai de Santo, ele foi uma figura central no terreiro que foi tombado como Patrimônio Histórico e Cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Sua liderança espiritual não se limitava apenas aos cultos e rituais, mas também à promoção de práticas de cura e bem-estar espiritual, como o benzimento e os tradicionais banhos de ervas, utilizados como forma de cura e proteção espiritual.
A Trágica Morte de Nezinho: Perda de um Ícone da Cultura Afro-Brasileira
Mestre Nezinho e sua mãe estavam internados no hospital com apenas um dia de diferença, em novembro, e ambos lutaram contra problemas de saúde graves. Na tarde de terça-feira (3), quando Maria Lucinda faleceu, Nezinho sofreu um colapso cardíaco e foi levado às pressas para a caixa de emergência. Apesar dos esforços médicos, Nezinho não resistiu a dor da perda de sua mãe e às deficiências de sua saúde, que estava comprometido por uma gastrite grave.
O falecimento de Nezinho gerou um impacto profundo na comunidade quilombola, que perde um de seus maiores defensores e uma das figuras mais influentes no campo da cultura negra e espiritualidade afro-brasileira em Mato Grosso. A cerimônia de velório de Mestre Nezinho ocorrerá na tarde desta quarta-feira (4), em sua residência, com o corpo da mãe sendo velado na Capela Recanto da Paz, em Várzea Grande.
Mestre Nezinho: A Jornada de Luta e Resistência Dentro do Quilombo de Mata Cavalo de Cima
Nezinho foi bisneto de Marcelino Paes de Barros, o fundador do Quilombo de Mata Cavalo de Cima, uma das principais referências quilombolas de Mato Grosso. Seu trabalho no campo cultural não se limitou ao seu terreiro, mas também envolveu a preservação das tradições quilombolas. Por meio de projetos como o Coletivo Pequena África Pantaneira, Nezinho utilizou Lei Aldir Blanc, que destacou seu trabalho e o nomeou Mestre da Cultura, um título que simboliza sua importância na manutenção e fortalecimento da cultura afro-brasileira em Mato Grosso.
Quebra de Fronteiras: A Luta Contra o Preconceito e a Aceitação da Sexualidade
Além de sua imensa contribuição para a cultura e espiritualidade, Nezinho também rompeu barreiras sociais relacionadas à sexualidade. Mestre Nezinho foi um homem homossexual reforçado, e sua trajetória de vida foi marcada pela luta contra o preconceito e pela defesa de uma sociedade mais inclusiva e plural. Ele foi reconhecido como uma figura de resistência dentro do seu quilombo, sendo um símbolo de coragem e empoderamento para a população negra e LGBT. Sua sexualidade assumida fez parte de seu legado de luta, não apenas no campo espiritual, mas também na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
A Tradição e o Patrimônio Cultural de Nezinho
Além de sua atuação religiosa, Mestre Nezinho também se dedicava à preservação do patrimônio cultural quilombola, sendo reconhecido como um dos maiores defensores da história do Quilombo de Mata Cavalo de Cima. Seu terreiro, considerado Patrimônio Histórico e Cultural, foi um espaço de acolhimento e aprendizado para todos que buscavam conexão com suas raízes ancestrais e espirituais. Além disso, sua atuação como mestre de cultura foi crucial para a educação cultural e espiritual das novas gerações de negros e quilombolas de Mato Grosso.
Legado e Homenagem: Nezinho Como Símbolo de Força e Determinação
A morte de Mestre Nezinho deixa um vazio imenso na cultura quilombola e na luta pela preservação das tradições negras. Sua irmã o descreveu como um homem que não media esforços para trabalhar pela comunidade, mesmo nas adversidades, sendo um verdadeiro exemplo de resistência e força. Ele será lembrado não apenas como um líder espiritual, mas também como um guardião das tradições culturais afro-brasileiras, que dedicou sua vida a romper fronteiras e superar obstáculos, tanto na luta contra o preconceito como na preservação da identidade quilombola.
Mestre Nezinho deixa um legado profundo e irreparável, que continuará vivo nas memórias das pessoas que tiveram o privilégio de conhecê-lo e aprender com sua sabedoria, generosidade e coragem.