A jornada de trabalho reduzida tem sido mostrada uma tendência crescente na Islândia, especialmente após o sucesso de uma experiência no setor público, que testou a redução da carga horária sem redução salarial. Atualmente, 86% dos trabalhadores insulares têm direito a uma semana de trabalho de no máximo 36 horas. Essa mudança gerou benefícios tanto para quantos trabalhadores para trabalhadores, e muitos brasileiros que vivem na Islândia têm experimentado essa nova realidade no mercado de trabalho.
O Início da Jornada Reduzida
Em 2015, a Islândia iniciou um experimento com funcionários públicos, testando planos para reduzir a carga de trabalho semanalmente, sem comprometer as previsões. O experimento envolvendo trabalhadores do governo e da Câmara Municipal de Reykjavik e demonstrou que a produtividade e o bem-estar dos trabalhadores não foram prejudicados, e sim, melhoraram. O sucesso da iniciativa levou à melhoria da redução da jornada em vários setores, ampliando o direito a 36 horas semanais para 86% dos trabalhadores do país, um dado apontado pelo instituto The Autonomy em seu relatório.
Como Funciona a Jornada de Trabalho na Islândia
A jornada reduzida tem sido negociada com sindicatos, que discutem os detalhes da implementação com os trabalhadores. As opções incluem a distribuição das 36 horas semanais de diferentes maneiras:
- Sextas-feiras mais curtas: muitos trabalhadores têm um expediente de apenas quatro horas às sextas-feiras, após cumprirem oito horas nos dias anteriores.
- Distribuição Equilibrada: outra possibilidade é distribuída igualmente como 36 horas ao longo de cinco dias, com jornadas de 7 horas e 12 minutos por dia.
- Folga Quinzenal: em algumas negociações, os trabalhadores podem optar por um dia inteiro de folga a cada duas semanas.
Esse novo modelo de trabalho tem permitido que os trabalhadores desfrutem de mais tempo livre durante uma semana, o que contribui para uma melhoria no equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.
Impactos no Bem-Estar e na Produtividade
Um estudo conduzido pelo instituto The Autonomy, publicado em 2021, revelou que a produtividade na Islândia se manteve estável ou até melhorou após a implementação da jornada reduzida. Além disso, o bem-estar dos trabalhadores aumentou significativamente, com menos estresse, maior satisfação no trabalho e mais tempo para a vida pessoal. Isso se traduz em uma maior sensação de equilíbrio, com muitos trabalhadores relacionando uma melhoria no estilo de vida e uma redução na sensação de que a vida estava passando sem ser aproveitada.
Para os brasileiros que vivem na Islândia, como Pietro Pirani e Miriam Guerra Massom, a redução da carga horária foi uma das principais mudanças positivas que surgiram ao mudar para o país. Pietro, por exemplo, vive com a família na Islândia e descreve como uma jornada de trabalho reduzida lhe permite ter mais tempo para se dedicar ao seu filho pequeno e à esposa. Ele trabalha em uma agência de publicidade e pode aproveitar uma semana para realizar atividades ao lado da família, como fotografar a aurora boreal, o que antes era impossível com a rotina agitada que vivia no Brasil.
Desafios e Desigualdades
Apesar do sucesso da jornada ser reduzido, nem todos os trabalhadores insulares têm acesso a essa melhoria. Setores privados, como a hotelaria, a indústria alimentícia, a pesca e a agrícola, ainda apresentam uma carga horária superior a 41 horas semanais, com 9% dos trabalhadores nessas áreas atuando mais de 51 horas por semana. Esse interesse está ligado principalmente à natureza desses setores, que demandam uma presença constante no mercado.
Além disso, a redução da jornada de trabalho, embora tenha contribuído para a melhoria do bem-estar dos trabalhadores, gerou custos adicionais para as empresas, que passaram a contratar mais mão de obra para cobrir os turnos. No entanto, o impacto financeiro não tem sido tão negativo quanto o esperado, uma vez que a produtividade aumentou, e a economia da Islândia parece forte, com um crescimento sustentado pela indústria do turismo e pelo uso das energias renováveis.
A Visão dos Brasileiros na Islândia
Pietro Pirani: Mais Tempo para a Família e para a Vida Pessoal
Pietro Pirani, um dos brasileiros que vivem na Islândia, relatou que a mudança para o país nórdico foi uma oportunidade de conquistar uma vida mais equilibrada. Com uma jornada reduzida, ele tem mais tempo para aproveitar a companhia da família e se dedicar a projetos pessoais. Pietro destaca a diferença cultural no ambiente de trabalho: na Islândia, há mais compreensão com questões familiares, e o trabalho não é uma prioridade absoluta. Essa flexibilidade tem permitido que ele viva de forma mais plena, sem as limitações que uma jornada tradicional de trabalho no Brasil impõe.
Miriam Guerra Massom: Valorização da Experiência e da Mulher no Mercado de Trabalho
Miriam Guerra Massom, brasileira radicada na Islândia há 21 anos, é outro exemplo de adaptação ao novo modelo de jornada de trabalho. Ela trabalhou no setor de imigração e, atualmente, atua no Conselho Tutelar da Infância e Juventude de Reykjavik. Miriam destaca a valorização dos profissionais mais velhos e o respeito às mulheres, um contraste em relação às experiências que teve no Brasil, onde muitas vezes envolveu discriminação em entrevistas de emprego devido à possibilidade de ter filhos. Na Islândia, a licença-paternidade é igual para homens e mulheres, o que contribui para uma maior igualdade de gênero no mercado de trabalho.
Custo de Vida na Islândia
Embora a redução da jornada de trabalho traga benefícios claros, o custo de vida na Islândia é muito alto. Tanto Pietro quanto Miriam ressaltam que, para viver confortavelmente no país, é necessário que ambos os membros da família trabalhem. O alto custo dos bens e serviços é uma realidade que os moradores enfrentam, mas o salário médio, aliado à jornada reduzida, compensa, permitindo uma vida mais equilibrada.
Um Modelo de Trabalho Promissor?
A experiência da Islândia com uma jornada de trabalho reduzida tem mostrado que é possível melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores sem sacrificar a produtividade ou a força econômica do país. O modelo tem sido considerado um sucesso, com aumento da satisfação no trabalho, redução do estresse e maior equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. No entanto, a implementação plena ainda enfrenta desafios nos setores privados, onde a carga horária permanece elevada.
Para os brasileiros que emigraram para a Islândia, essa mudança tem sido uma oportunidade de viver de maneira mais equilibrada e aproveitar melhor o tempo com a família e os amigos. As histórias de Pietro e Miriam ilustram como uma jornada reduzida tem mudado positivamente a vida dos trabalhadores e reforçada a ideia de que um modelo de trabalho mais humano e flexível pode ser possível, mesmo em um contexto de alta competitividade econômica.