No universo digital atual, muitos adolescentes estão se aventurando no mercado de marketing de afiliados, promovendo cursos sobre como ganhar dinheiro de maneira fácil e rápida. Porém, ao invés de seguirem o caminho tradicional da educação formal, esses jovens influenciam outros a abandonar os estudos, prometendo um futuro de luxo com ganhos altíssimos, às vezes superiores ao salário dos médicos. Embora, na superfície, essas postagens possam parecer interessantes, especialistas alertam sobre as potenciais implicações legais, como trabalho infantil e exploração de imagem.
1. Crescimento das Plataformas de Marketing de Afiliados: Kiwify e Cakto
As plataformas Kiwify e Cakto são amplamente utilizadas por esses influenciadores mirins para comercializar cursos que prometem ensinar outros como ter sucesso com marketing de afiliados. A estratégia básica de marketing de afiliados é simples: indivíduos (infoprodutores) criam e disponibilizam cursos ou produtos em plataformas como Kiwify e Cakto, enquanto afiliados (como esses adolescentes) ganham comissões pelas vendas dos cursos através de links exclusivos.
- Kiwify: Cobra uma taxa de 8,99% mais uma tarifa fixa de R$ 2,49 por venda realizada.
- Cakto: Oferece taxas baixas, com 3,25% de comissão sobre vendas feitas no cartão de crédito, além de cobrar R$ 2,49 por venda.
2. O Estilo de Vida, Ostentação e Venda de Cursos
Em vídeos postados em plataformas como Instagram e TikTok, os adolescentes ostentam uma vida luxuosa, mostrando maços de dinheiro e destacando os altos valores que reivindicam como comissões pelas vendas dos cursos. No entanto, o conteúdo não revela de onde vem o dinheiro, criando uma narrativa que minimiza a importância do estudo formal e propaga a ideia de que qualquer um pode ser bem-sucedido apenas divulgando esses cursos.
- Postagens Provocativas: Muitos dos vídeos postados por esses influenciadores mirins brincam com a ideia de “quem não trabalha nesse esquema” e destacam que eles ganham mais do que pessoas que trabalham em profissões tradicionais, como médicos e advogados.
- Promessa de Riqueza: Os vídeos sugerem que é possível ganhar até R$ 100 mil por mês com “trabalho simples” de divulgação de cursos. Para isso, os adolescentes frequentemente afirmam que as vendas podem ser feitas de 30 minutos a 1 hora por dia.
3. Índices de Trabalho Infantil e Exploração
Advogados especializados em direito da criança e do adolescente alertam para o risco de exploração infantil nas ações desses influenciadores mirins. O marketing de afiliados pode, em alguns casos, ser uma fachada para fraudes, como estelionato, e representar uma forma de trabalho infantil online.
- Falta de Transparência: A maioria dos adolescentes não revela com clareza a fonte da sua suposta riqueza, nem detalha o valor das comissões que recebe. Em muitos casos, a promessa de grandes ganhos é exagerada e não corresponde à realidade.
- Condições de Trabalho: O fato desses influenciadores estarem promovendo cursos para outros adolescentes, indicando que esses cursos são uma chave para o sucesso financeiro, pode ser interpretado como uma forma de exploração de imagem e uso de mão de obra infantil para gerar lucros.
- Responsabilidade dos Pais: Em alguns casos, os pais dos adolescentes estão cientes das atividades online dos filhos e até parecem considerar a venda desses cursos como uma oportunidade legítima de trabalho. Entretanto, especialistas em direitos humanos afirmam que é fundamental garantir que esse tipo de atividade seja regulamentado e protegido para evitar abusos.
4. A Problemática das Plataformas e o Não Cumprimento de Regras
Embora as plataformas como Kiwify e Cakto aleguem que não autorizam menores de idade para utilizá-las, há promessas de que as regras estão sendo burladas. Os perfis dos adolescentes mostram que, mesmo com idades abaixo da maioridade, eles fornecem se registrar e promover cursos, muitas vezes com o auxílio de pais ou responsáveis que fornecem seus dados para criar as contas.
- Kiwify e Cakto: Ambas as plataformas afirmam que menores não devem usar seus serviços, mas os relatórios mostram que muitos desses influenciadores mirins possuem contas nessas plataformas, o que gera um pacote regulatório.
- Fraudes nas Inscrições: De acordo com relatos anônimos, há estratégias para roubar as regras e permitir que crianças e adolescentes participem do esquema, como o uso dos dados de um responsável para criar contas.
5. Os Riscos de Publicidade Enganosa e Fraude
Os cursos vendidos por esses influenciadores prometem resultados rápidos, mas não garantem a efetividade. Especialistas em educação digital alertam para os riscos de fraude, onde os jovens podem ser enganados ao comprar cursos que não entregam os resultados prometidos.
- Venda de Promessas: A maioria dos cursos vendidos pelos influenciadores mirins são sobre “tráfego orgânico” e “aceleradores de resultados”, mas esses tópicos são vagos e muitas vezes pouco aplicáveis à realidade dos participantes.
- Dificuldades para Cancelamento: Algumas pessoas que passaram por cursos relatam dificuldades para cancelar suas inscrições ou receber reembolsos, uma prática comum de plataformas de marketing agressivas e de vendas enganosas.
6. Legislação Brasileira e O Impacto nas Crianças
A legislação brasileira é clara quanto ao trabalho infantil, que é proibido no país. O trabalho de crianças e adolescentes deve ser regulamentado e não pode prejudicar o desenvolvimento educacional ou emocional deles. No entanto, quando se trata de trabalho digital, as regras ainda estão sendo ajustadas para lidar com essa nova realidade.
- Trabalho Infantil Digital: A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) proíbem que menores de 16 anos trabalhem, salvo na condição de aprendizes, e devem garantir sua educação.
- Exploração e Consentimento dos Pais: O envolvimento dos pais nesses negócios pode não ser suficiente para isentar de responsabilidade os envolvidos na exploração da imagem e do trabalho digital de crianças e adolescentes. Existe uma necessidade urgente de regulamentação mais específica para esse setor, que envolve o marketing digital e o uso de crianças como influenciadas.
7. A Influência nas Novas Gerações
Além dos riscos legais, o modelo de trabalho promovido por esses influenciadores mirins pode afetar variações no comportamento de outras crianças e adolescentes. Ao divulgar uma vida de luxo e sucesso financeiro sem necessidade de estudos, esses jovens podem acabar desvalorizando a educação formal e criando uma falsa percepção sobre o mercado de trabalho.
- Mudança de Mentalidade: O comportamento observado em muitos desses influenciadores mirins sugere uma mudança nas expectativas de carreira, com ênfase na facilidade de ganhar dinheiro digitalmente, sem considerar os custos reais ou os riscos envolvidos.
- Perigos da Superexposição Digital: Crianças e adolescentes que se tornam influenciadores são constantemente expostos a críticas, pressão de seguidores e até esforço de manipulação por adultos. A superexposição digital pode ter impactos psicológicos a longo prazo.
O Caminho para a Regulação
Embora as plataformas de marketing de afiliados como Kiwify e Cakto ofereçam oportunidades legítimas para adultos, a participação de menores nesse mercado digital levanta questões legais e morais que precisam ser cuidadosamente examinadas. A exploração de crianças e adolescentes no marketing digital deve ser regulamentada de forma mais eficaz para garantir sua proteção, impedindo que se tornem vítimas de fraudes e exploração.
É fundamental que o Brasil, assim como outros países, se atualize para enfrentar os desafios dessa nova economia digital, garantindo a integridade das crianças e adolescentes enquanto preserva seu direito à educação e ao desenvolvimento saudável.