Márcia Abrahão, a primeira mulher a ocupar o cargo de reitora da Universidade de Brasília (UnB), encerra sua gestão nesta quinta-feira (21), após dois mandatos que se estenderam de 2016 a 2024. Durante esse período, houve desafios significativos, incluindo a crise orçamentária, os cortes de palavras e a pandemia de COVID-19, mas também obteve conquistas importantes na universidade, que abrangem desde a inclusão social até a sustentabilidade ambiental. Com a chegada de Rozana Naves, eleita em setembro, à reitoria, Márcia Abrahão faz um balanço de sua trajetória, destacando realizações, dificuldades e o legado que deixa para a próxima gestão.
1. A Transformação da UnB Sob a Gestão de Márcia Abrahão
Quando Márcia assumiu a reitoria em 2016, a UnB enfrentou uma série de desafios estruturais, como a quantidade de obras inacabadas e sistemas administrativos e acadêmicos ainda na transição do modelo analógico para o digital. Além disso, no primeiro ano de sua gestão, a universidade sofreu uma redução de 50% no orçamento, o que exigiu adaptações rápidas e criativas para dar continuidade aos projetos.
Ao longo dos oito anos, a reitora implementou uma série de melhorias, com destaque para a digitalização de processos administrativos e acadêmicos, incluindo a criação do programa Simplifica UnB, que visa a simplificação de processos burocráticos. A democratização das decisões dentro da universidade também foi uma das grandes conquistas, com a restrição e o fortalecimento dos órgãos colegiados, que passaram a contar com a participação ativa da comunidade universitária.
2. Principais Conquistas e Projetos
Sustentabilidade Ambiental
Márcia Abrahão considera a política de sustentabilidade ambiental um dos maiores legados de sua gestão. A UnB se destaca como uma das universidades mais avançadas do Brasil nesse campo, com práticas como geração de energia fotovoltaica em todos os campi, compostagem de resíduos e utilização de energia autossustentável no campus do Gama. A criação da Secretaria de Meio Ambiente foi outro marco importante, permitindo à universidade implementar políticas ambientais de forma independente, sem subordinação ao setor de infraestrutura.
Vestibular 60+
Outro projeto de destaque foi o Vestibular 60+, uma política inclusiva que visa garantir o acesso de pessoas com 60 anos ou mais à universidade, proporcionando oportunidades para aqueles que buscam o ensino superior em uma fase mais madura da vida. Este projeto, considerado um dos “xodós” da reitora, trouxe visibilidade à UnB no campo da inclusão educacional e consolidou a universidade como um espaço de diversidade etária.
Creche Universitária
A criação e a modernização da creche da UnB também foram um avanço durante a gestão de Márcia. O espaço, totalmente reformado e estruturado, não oferece apenas um seguro local e adequado para o cuidado das crianças de servidores e estudantes, mas também reflete a preocupação da gestão com a questão da inclusão e apoio à permanência das mulheres na universidade.
Política de Direitos Humanos e Inclusão
Durante sua gestão, a UnB avançou significativamente na promoção dos direitos humanos e da inclusão social. A criação da Secretaria de Direitos Humanos foi um marco, refletindo o compromisso com a diversidade e a igualdade. Além disso, a UnB ampliou o número de vagas destinadas a indígenas, negros e quilombolas, além de implementar o vestibular 60+ e criar cotas para a pós-graduação.
O aumento das bolsas de assistência estudantil, o lançamento de auxílios como o auxílio-creche, auxílio-saúde mental, auxílio-transporte e auxílio-computador para estudantes em situação de vulnerabilidade também foram aspectos importantes dessa política de inclusão social.
Avanços na Infraestrutura
Márcia Abrahão deixou sua marca em diversas áreas da infraestrutura da universidade. A conclusão de obras inacabadas, como o Hospital Universitário, o campus do Gama e da Ceilândia, e a criação de novos espaços de ensino, como o Instituto de Artes e o Instituto de Geociências, são exemplos de seu esforço para melhorar a estrutura física da UnB. Além disso, diversas reformas foram realizadas nos apartamentos residenciais, com foco em melhorias nas condições de moradia para professores e técnicos administrativos.
3. A Gestão Durante a Crise Orçamentária
Um dos maiores desafios enfrentados durante a gestão de Márcia Abrahão foi uma crise orçamentária, que atingiu a universidade especialmente no período de 2017 a 2019. Com cortes significativos no orçamento da educação, a reitora precisou adotar uma abordagem criativa e proativa para manter a universidade funcionando e implementar suas políticas. Ela investiu em parcerias externas, como o BNDES, para viabilizar projetos de infraestrutura, além de trabalhar em estreita colaboração com a bancada do DF para garantir emendas parlamentares que ajudaram a financiar diversas obras.
Em meio a esse cenário desafiador, Márcia se destacou por sua capacidade de enfrentar crises e transformar adversidades em oportunidades de crescimento institucional. Por exemplo, a criação de uma série de auxílios e benefícios durante o período de crise orçamentária foi uma resposta direta aos ataques ao orçamento da educação promovidos pelo governo federal de então.
4. Legado e Desafios para a Próxima Gestão
Ao deixar a reitoria, Márcia Abrahão deixa um legado significativo nas áreas de direitos humanos, sustentabilidade, infraestrutura e inclusão social. O projeto da UBS Escola, a expansão das cotas, a construção de novos apartamentos residenciais e a modernização da biblioteca são apenas alguns exemplos do impacto positivo que sua gestão teve na universidade.
A nova reitora, Rozana Naves, assume com a responsabilidade de dar continuidade a esse legado e enfrentar novos desafios, como a segurança universitária, com a instalação de mais de 800 câmeras de segurança nos quatro campi da UnB, e a ampliação das políticas de permanência estudantil, que continua a ser uma prioridade para a universidade.
5. Investimentos e Futuro da UnB
A UnB continuará investindo em tecnologia educacional e pesquisa científica, com o objetivo de se manter entre as principais universidades do Brasil e do mundo. Além disso, a gestão de Rozana Naves deverá avançar na sustentabilidade e na integração da comunidade acadêmica, com a conclusão das obras que já estão em andamento e a apresentação de novos espaços, como o teatro Helena Barcelos, que ficará pronto após mais de 10 anos fechados.
Márcia Abrahão, ao refletir sobre sua gestão, confirma os erros cometidos, como a comunicação deficiente com os moradores dos apartamentos residenciais, mas também se orgulha de suas conquistas. Seu legado na UnB será lembrado como um período de transformação, inovação e fortalecimento das políticas públicas externas para a educação, a inclusão social e a sustentabilidade.
Com a passagem do bastão para Rozana Naves, a UnB segue em um processo contínuo de evolução, com foco no desenvolvimento acadêmico, bem-estar da comunidade universitária e responsabilidade socioambiental.