A valorização do dólar tem repercussões significativas na economia global e, particularmente, no agronegócio de Mato Grosso, um dos maiores polos agropecuários do Brasil. A alta da moeda, que superou os R$ 5,86, traz um impacto duplo: enquanto pode impulsionar as exportações brasileiras, também eleva os custos de insumos, como fertilizantes e defensivos agrícolas. Esse equilíbrio entre ganhos nas exportações e aumento nos custos internos coloca os produtores em uma situação.
O Dólar em Ascensão: Repercussões no Setor Agropecuário de Mato Grosso
O agronegócio de Mato Grosso, responsável por grande parte da produção de soja, milho, algodão e carne bovina, sente diretamente os reflexos da oscilação do dólar. No dia 6 de novembro de 2024, a moeda norte-americana alcançou a cotação de R$ 5,8619, influenciada pela vitória de Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos. A alta do dólar tem sido um tema de grande interesse no estado, especialmente em cidades como Sorriso, Sinop e Lucas do Rio Verde, que lideram as buscas pela moeda.
Principais Efeitos da Alta do Dólar no Agronegócio de Mato Grosso:
- Benefício nas Exportações: Com a valorização da moeda, os produtos agropecuários de Mato Grosso se tornam mais competitivos no mercado internacional. O aumento do valor da soja e outros produtos exportados é vantajoso para os produtores que dependem das exportações. O dólar mais forte significa que os produtos vendidos para o exterior geram mais receita, já que a cotação de venda é em dólares.
- Aumento nos Custos de Produção: Por outro lado, os insumos necessários para a produção agrícola, como fertilizantes, defensivos e combustíveis, são cotados em dólar. O aumento da moeda americana, portanto, eleva os custos para os produtores, pressionando ainda mais as margens de lucro.
- Pressão nas Margens de Lucro: Embora a alta do dólar beneficie as exportações, o aumento nos custos de insumos pode diminuir o lucro final. Os produtores, que já enfrentam desafios devido à alta de preços de insumos, precisam equilibrar os benefícios das exportações com os custos internos.
A Visão dos Especialistas: O Que Dizem os Economistas e Produtores?
Maurício Munhoz, Economista da Unemat: Impacto Positivo nas Exportações, Mas Custos Mais Altos
O professor de economia da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), Maurício Munhoz, explica que, embora a alta do dólar tenha um impacto positivo nas exportações, os produtores devem estar atentos ao aumento dos custos de produção. Munhoz destaca que a valorização do dólar torna os produtos de Mato Grosso mais atrativos no mercado internacional. No entanto, ele alerta que o aumento dos custos com fertilizantes e defensivos pode prejudicar os ganhos, dependendo de quanto os produtores dependem de insumos importados.
“A valorização do dólar é positiva para as exportações, mas os produtores precisam se atentar aos custos internos, que também aumentam com a alta da moeda”, explica Munhoz.
João Birkhan, CEO da Sim Consult: A Alta do Dólar Não Beneficia o Agronegócio Local no Momento
João Birkhan, CEO do Sistema de Informação de Mercado (Sim Consult), alerta que a alta do dólar não traz benefícios imediatos para o agronegócio local de Mato Grosso, especialmente porque o setor está no período de planejamento e plantio da safra 2024/2025. Ele explica que, embora a soja seja cotada em dólar no mercado internacional, o aumento da moeda não se traduz em um aumento proporcional nos lucros dos produtores.
“Os custos de produção, que também são dolarizados, aumentam na mesma proporção que o preço da soja em reais. Isso pode criar uma ilusão de aumento no lucro, mas, na prática, não é bem assim.”
Ilson Redivo, Presidente do Sindicato Rural de Sinop: O Desafio da Oscilação Cambial
Ilson Redivo, presidente do Sindicato Rural de Sinop, compartilha a preocupação dos produtores em relação à oscilação cambial. Ele destaca que, embora o preço da soja não se altere imediatamente com a alta do dólar, os custos dos insumos aumentam de forma rápida e imediata, afetando a rentabilidade dos produtores. O impacto é mais intenso para aqueles que precisam financiar a produção, visto que o crédito é em dólar e a variação da moeda aumenta os custos financeiros.
“O aumento do dólar impacta diretamente nos custos dos insumos. Mesmo que o preço da soja suba, o financiamento em dólar torna o cenário mais desafiador para os produtores.”
Mato Grosso: Líder Nacional na Produção Agropecuária
Mato Grosso se destaca como o principal produtor de soja, milho, algodão e carne bovina do Brasil. Esse setor representa mais de 50% do PIB estadual, que cresceu de R$ 14,8 milhões em 2000 para R$ 233,39 milhões em 2021, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A agricultura continua sendo o motor da economia do estado, mas as recentes oscilações do dólar colocam os produtores em uma posição difícil.
O Impacto da Variação Cambial no Mercado de Commodities e Insumos
Comodities e Insumos: Como o Dólar Afeta os Preços de Produtos Agropecuários
- Soja: A soja é um dos produtos mais afetados pela variação do dólar. Embora o valor da soja aumente com a alta do dólar, os custos de produção também sobem, criando um cenário em que os lucros não aumentam proporcionalmente.
- Fertilizantes e Defensivos: Como esses insumos são importados e cotados em dólar, a alta da moeda encarece os custos de produção e pode afetar a rentabilidade dos produtores.
- Crédito em Dólar: Muitos produtores de Mato Grosso dependem de crédito externo, em dólares, para financiar a produção. Isso significa que, além do aumento no custo dos insumos, o valor do financiamento também se torna mais alto, pressionando ainda mais os produtores.
O Desafio da Valorização do Dólar para o Agronegócio de Mato Grosso
A alta do dólar traz tanto oportunidades quanto desafios para o agronegócio de Mato Grosso. Se por um lado, a valorização da moeda torna as exportações brasileiras mais competitivas, por outro, ela eleva os custos de produção, afetando especialmente os produtores que dependem de insumos importados e crédito em dólar. A balança entre esses dois efeitos será decisiva para os resultados do agronegócio local nos próximos meses.