Um levantamento inédito realizado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) indica que, no Brasil, nove médicos são agredidos diariamente em suas atividades profissionais. Este dado representa um caso de violência a cada três horas, um cenário preocupante que afeta tanto a saúde dos médicos quanto a qualidade do atendimento aos pacientes.
Metodologia do Levantamento
Para chegar a essa conclusão, o CFM analisou os boletins de ocorrência registrados nas delegacias de Polícia Civil em todos os estados e no Distrito Federal entre os anos de 2013 e 2024. O levantamento revela informações cruciais sobre a natureza e a frequência da violência enfrentada pelos médicos.
Dados Coletados
- Período analisado: 2013-2024
- Total de BOs registrados: Mais de 38.000 casos de violência contra médicos
- Pico de registros: 3.993 boletins em 2023
Principais Tipos de Violência Registrados
Os tipos de violência documentados variam, e os dados revelam uma gama preocupante de agressões:
- Ameaça: O tipo mais comum, onde os médicos são intimidados verbalmente.
- Vias de fato: Agressões físicas que não resultam em lesão grave.
- Perturbação do trabalho: Interferência na atividade profissional que pode incluir gritos e comportamentos agressivos.
- Lesão corporal: Agressões que resultam em ferimentos e podem exigir cuidados médicos.
- Furto: Roubo de pertences, como equipamentos médicos ou objetos pessoais.
- Injúria, calúnia e difamação: Ataques à reputação dos profissionais.
Gráficos e Estatísticas: Evolução da Violência Contra Médicos
Número de Registros por Ano (2013-2024)
Estatísticas anuais que ilustram a crescente incidência de violência contra médicos:
Ano | Registros |
---|---|
2013 | 2.669 |
2014 | 3.114 |
2015 | 3.118 |
2016 | 3.023 |
2017 | 2.919 |
2018 | 3.222 |
2019 | 3.934 |
2020 | 3.097 |
2021 | 3.872 |
2022 | 3.955 |
2023 | 3.993 |
2024* | Dados completos disponíveis em 2025 |
*Nota: Os dados de 2024 serão finalizados e divulgados em 2025.
Perfil das Vítimas
Análise Demográfica
- Gênero: 47% dos registros de violência foram contra mulheres, destacando a vulnerabilidade enfrentada por profissionais femininas na área da saúde.
- Localização: 66% dos casos ocorreram em cidades do interior, sugerindo que áreas menos urbanizadas podem apresentar condições de trabalho mais perigosas para os médicos.
- Estados mais afetados:
- São Paulo: Registra quase 50% dos casos de violência.
- Paraná: Segundo lugar em registros.
- Minas Gerais: Terceiro estado com maior número de ocorrências.
Importância da Segurança no Trabalho
José Hiran Gallo, presidente do CFM, enfatiza que é fundamental implementar medidas eficazes para proteger os médicos. Ele destaca:
“Os profissionais carecem de segurança física dentro das unidades. Não é apenas o patrimônio que precisa de cuidados. A garantia de condições para o exercício da atividade médica, incluindo um ambiente seguro, é imprescindível.”
Desafios na Coleta de Dados e Subnotificação
Apesar do volume de informações coletadas, o CFM aponta várias limitações:
- Estados não reportantes: O Rio Grande do Norte não enviou os dados a tempo, enquanto o Acre afirmou não ter informações disponíveis.
- Falta de clareza nos dados: Em estados como Mato Grosso e Paraná, as informações referem-se à violência em geral contra profissionais de saúde, e não apenas médicos, levando a estimativas que podem subestimar a realidade.
- Subnotificação: Muitos estados não informaram precisamente a quantidade de médicos que sofreram violência, tornando os dados ainda mais preocupantes.
A violência contra médicos é uma questão crítica que requer atenção imediata. A proteção dos profissionais de saúde é essencial não apenas para a sua segurança, mas também para garantir um atendimento de qualidade aos pacientes. O CFM e outros órgãos devem trabalhar juntos para criar políticas e ambientes que promovam a segurança no trabalho, assegurando que os médicos possam exercer sua profissão em paz.